Maria Bethânia emocionou Miami
Maria Bethania em Amor, Festa, Devoção
Miami Beach sexta-feira dia 11 de novembro de 2010.
'Amor, Festa, Devoção' o espetáculo resultado dos discos 'Tua' e 'Encanteria' certamente adoçou a espera, a ansiedade e o fim de um hiato de 20 anos nos palcos Floridianos. Maria Bethânia é a maior intérprete viva da música popular brasileira e durante 90 minutos de show lançado em 2009, já inclusive virou DVD e foi apresentado nas mais importantes capitais brasileiras entre 2009 e 2010.
Um teatro lotado e uma cantora consciente da saudade que fez o imigrante brasileiro sentir. Consciente pois, também diferente das demais apresentações Brasil afora, Bethânia resgatou standards como 'Negue' e 'Fera Ferida', ausentes no roteiro original do show.
Abertas as cortinas, ela surge no caminho vermelho vestindo pantalona preta, camisa branca e cantando 'Santa Bárbara', canção de Roque Ferreira que induz uma certa 'benção' para o início do espetáculo. O declame de 'Olho de Lince' chama as luzes para a dona da festa e a partir dali um tanto mais 'intimista' e 'romântico'. 'Explode coração', talvez o maior medalhão do repertório da cantora, é cantada a capela e ecoa pelo teatro "Filmore Miami Beach" acompanhada verso a verso pelo público. Seguida de 'Balada para Gisberta' é o fim e ápice do primeiro ato.
Após uma exibição magistral da banda, acomodada em duas arquibancadas, Maria Bethânia ressurge vestida de branco e com jaqueta verde para trazer 'Não identificado', música de Caetano Veloso e 'a preferida de meu pai', segundo a própria. O que se vê desse momento em diante é uma declaração em verso e melodia para a mãe Dona Canô, razão maior da existência do show. 'Meu canto é seu, minha senhora', grita Bethânia antes de 'Estrela', congada mineira de Vander Lee que leva a plateia para um encontro com um Brasil mais profundo, desenhado com o texto 'Progresso vazio', de Caetano Veloso. Sentada ao lado de Jaime Alem, maestro e violão, a intérprete exibe com 'Doce Viola', 'Guriatan' e 'Pescaria' o que há de mais valioso em seu patrimônio: a capacidade de cantar emoções e figuras singelas de maneira muito sofisticada, relembrando que pelos alpendres e rodas de viola existe a mais pura poesia da qual o ser humano tem conhecimento.
Já de pé, 'Ê senhora', de Vanesa da Mata, abre o pout porri composto ainda por 'Saudade dela', 'Batatinha roxa' e 'Mão do amor'. Um sinal evidente de um dos maiores valores de Bethânia: a conexão do novo, com o contemporâneo. Há neste bloco momentos memoráveis com 'É o amor', sucesso de Zezé de Camargo e Luciano e citação de 'Vai dar namoro', outro estrondo sertanejo da dupla Bruno e Marrone e que aqui, no contexto de 'Amor, Festa, Devoção', assume trajes um tanto quanto 'diferentes'.
O show é finalizado com uma troca. 'Reconvexo', originalmente presente no bis, entra para o roteiro do show e 'O que é o que é', pérola de Gonzaguinha originalmente dentro do show, sai para o bis.
Diferente, exclusivo o 'Amor, Festa, Devoção' continua impressionantemente ótimo. Maria Bethânia consegue o que talvez seja o maior ganho de um artista: longevidade com frescor. O show brinca com coisas antigas e novas, com o urbano e o rural, com o amor , com a festa, com o sagrado. 'Ensinamentos dela para o bem viver', diz uma cantora apaixonada por sua mãe. Tudo isso aconteceu em um show único nos Estados Unidos produzido pela Rhythm Foundation.
*Baseado no texto de Marcel Macedo
